sábado, 25 de fevereiro de 2012

Introdução

O Palácio de São Bento tem as suas origens no primeiro mosteiro beneditino edificado em Lisboa, remontando a sua construção ao ano de 1598 na Quinta da Saúde. 
Era propriedade dos Frades Negros de Tibães, conhecido por Mosteiro de S. bento da Saúde, sendo a sua padroeira N.ª Sra. da Saúde. 
Terá sido em 1615 que a Ordem escolheu o local definitivo para a instalação da irmandade dos monges de hábito negro, numa quinta adquirida a Antão Martines, onde se encontrava a Casa de Saúde para acolhimento dos pestíferos vitimados pelo surto de 1569.
O arquitecto régio Baltasar Álvares(1) foi o autor do projecto, sendo que este foi continuado depois da sua morte pelo Frei Pedro Quaresma e pelo Frei João Turricano, no entanto, este acabou por não ser concluído na totalidade devido á sua magnificência. Complexo, auto-suficiente e extenso que o primeiro em termos estruturais e espaciais, assentava numa planta quadrada com quatro claustros, uma igreja com capelas laterais, ladeada por duas torres, dormitórios, barbearia, cozinha, refeitório, adegas, lagar, forno e oficinas.
Ainda não haviam sido terminadas as obras quando o convento sofreu alguns danos com o terramoto de 1755.No entanto, após a Revolução Liberal de 1820 e a extinção das ordens religiosas em 1834, ano em que a vida conventual sofreu uma grande derrocada, o edifício foi escolhido como propício para a instalação do Palácio das Cortes, ou vulgar e geralmente denominado como Parlamento, por decreto do Rei D. Pedro IV a 3 de Setembro de 1833. 
Foi, então, entregue ao arquitecto Possidónio da Silva(2) a responsabilidade de uma abreviada adaptação do espaço religioso às necessidades do novo propósito laico-político, sendo aproveitada a Sala do Capítulo para instalação da Câmara dos Pares e feita de raiz a Câmara dos Deputados, inauguradas a 15 de Agosto de 1834.
As primeiras Cortes Constituintes de 1821 reuniram-se na livraria do Convento das Necessidades, mobilada e decorada para o efeito, segundo o projecto de Domingos Sequeira(3). Com o incêndio de 1895, a Câmara dos Deputados acabou por ser completamente destruída, revelando-se urgente a sua reconstrução, tendo, para tal, sido aberto um concurso que seleccionou o projecto de Miguel Ventura Terra(4) que, caracterizado por uma estética neoclássica, este acabaria por remodelar não apenas a sala, quase todo o edifício, conferindo-lhe uma dimensão monumental.
A partir dos anos 20, a direcção das obras foi entregue ao arquitecto Adolfo Marques da Silva(5) que concebeu algumas alterações ao projecto inicial nos pormenores finais das fachadas e também em detalhes no acabamento dos interiores, essencialmente, ao nível de todo o programa decorativo.
No decorrer das obras efectuadas no edifício, foram criadas a Antecâmara dos Deputados, a Sala dos Passos Perdidos, a Escadaria Nobre, a Biblioteca Parlamentar e o Salão Nobre (concebidas e efectuadas nos anos 40 do século XX), dentro de uma nova concepção estética e utilitária característica do Estado Novo. 



[1] Professor na Ordem dos Jesuítas em 1578. Em 1580, por morte de Afonso Álvares, foi nomeado por D. Henrique para substituir este como mestre de obras da comarca do Alentejo. No ano seguinte, substituiu  António Mendes, nas empreitadas dos paços das vilas de Santarém, Almeirim e Salvaterra, e também do Mosteiro da Batalha. Reconhecida a competência e qualidade do seu trabalho, passou a assumir-se como arquitecto, estreando-se em 1579 com o traçado do convento jesuítico de Santo Antão, o Novo, em Lisboa. Seguiram-se os projectos para o Mosteiro de São Bento da Saúde (1598), também em Lisboa, e para o edifício do primitivo Colégio de São Bento (1600), em Coimbra. Presume-se que a sua última obra tenha sido o Mosteiro de S. Vicente de Fora, também em Lisboa. 

[2] Joaquim Possidónio Narciso da Silva cresceu no Brasil e regressou para Portugal com 21 anos onde estudou em diversos ateliers. Frequentou o curso de Arquitectura na Escola de Belas-Artes em Paris, onde foi discípulo de Charles Percier. Esteve em Roma e regressou para Paris onde realizou várias obras. Veio para Portugal em 1833, tornando-se arquitecto da Casa Real, trabalhando nos palácios da Pena, de São Bento e das Necessidades, traçando também o Palácio do Alfeite.

[3] Domingos António de Sequeira foi um pintor português nascido em Lisboa, de origem modesta e educado na Casa Pia de Lisboa onde frequentou o curso de Desenho e Figura na Área Régia e trabalhou como decorador. Partiu para Itália por volta de 1788 e estudou na Academia Portuguesa em Roma. Foi admitido na Academia di San Luca, onde pintou a “Desolação de São João Baptista”, a “Alegoria á Casa Pia” e a “Aparição de Cristo a D. Afonso Henriques” Regressou a Portugal em 1795 e reinstalou-se em Lisboa. Foi nomeado pintor da corte em 1802 e tornado também co-director da empreitada de pintura do Palácio da Ajuda. Em 1803 foi professor de Desenho e Pintura das princesas, e em 1806, director da aula de Desenho no Porto. Viveu as convulsões politicas da época intensamente. Em 1826, fixou-se em Roma, dedicando-se a pinturas religiosas, mais propriamente, visões de luminosidade pertencentes já ao Estilo Romântico. Morreu em Roma, encontrando-se no túmulo na  Chiesa di Sant'Antonio dei Portoghesi. 

[4]  Estudou Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, e viajou para França, frequentando também a Escola de Belas-Artes de Paris e o atelier do arquitecto Victor Laloux.  Premiado com várias medalhas de honra, ganhou o concurso para a remodelação do Palácio de São Bento. São da sua autoria edifícios como  a Maternidade Alfredo da Costa (1908) e o teatro Politeama(1912-1913).

[5]  Adolfo António Marques da Silva formou-se em Arquitectura na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1898. Participando essencialmente em programas de restauro de edifícios e monumentos como a própria escola de Belas-Artes de Lisboa e a Sé de Lisboa. s suas principais obras foram a Estação dos Correios de Sintra (1911) e uma moradia na Avenida Duque de Loulé que recebeu uma menção honrosa do Prémio Valmor (1909).

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